terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Um pedacinho da lua.



Era um dia muito frio, 25 de junho, mas as minhas amigas me convenceram a ir a uma quermesse. Como eu imaginava tudo muito chato por lá. Eu estava com dor de cabeça e queria ir embora, mas, quando olhei para o lado vi o Marcelo. Nunca tinha sentido uma atração assim por alguém. Não conseguia parar de olhar para ele e acabei chamando sua atenção.

O Marcelo sorriu e me chamou. Começamos a conversar e, em meia hora, parecia que já nos conhecíamos havia séculos. Eu estava completamente á vontade, como se estivesse falando com alguém muito íntimo. Foi amor a primeira vista.

Ficamos juntos naquela mesma noite. Depois, ele foi me levar em casa. Enquanto caminhávamos, olhei para o céu, sorri e disse que a lua era linda e que, se pudesse, iria até lá pegar um pedacinho dela para mim. Nos despedimos sem combinar nada, mas eu acreditava que ainda nos encontraríamos.

O tempo passou e tudo o que me restou do Marcelo foram as lembranças e a paixão que ficou em mim.

Alguns meses, uma amiga resolveu comemorar seus dezoito anos com um baile de máscaras. Achei a idéia meio sem graça, mas, em consideração á nossa amizade, fui á festa. Lembro que fiquei isolada num canto, até que uma pessoa me convidou para dançar. Como estava sozinha, aceitei.

Enquanto dançávamos, conversávamos e ele, num determinado momento me falou sobre a lua. Disse que um dia iria até ela busca um pedacinho pra mim. Fiquei surpresa, não conseguia acreditar, então, ele tirou a máscara, e pude ver com certeza que era mesmo o Marcelo. Meu coração quase explodiu de tanta alegria.

A partir deste dia, começamos a namorar. Era tudo maravilhoso, ele respondia a todas as minhas expectativas e nossa paixão crescia mais e mais.

No dia 12 de setembro de 1995, estávamos indo para sua casa. A lua estava linda e ele me disse, brincando, que aquele era o momento para buscar um pedacinho da lua pra mim. Correu pro meio da rua, não olhou para os lados, e um carro em alta velocidade levou o Marcelo para sempre.

Hoje, meses depois, ainda sinto a sua presença por todos os lugares onde passo e ouso sempre sua voz me chamando. Agora sei que numa noite fui dormir e tive um sonho maravilhoso, mas, quando acordei, estava tudo perdido: o sonho tinha acabado.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Pânico.



Você abre a boca. Abre tanto que as mandíbulas chegam a estalar. Manda que seus pulmões puxem o ar, AGORA; Você esta precisando de ar, precisando AGORA. Mas as suas vias respiratórias ignoram o seu comando. Entram em colapso, se entreitam, se contraem e, de repente, você está respirando através de um canidunho de refrigerante. A sua boca se fecha e os seus lábios se enrugam, e tudo que você consegue fazer é soltar um som rouco, entrangulado. As suas mãos tremem e se contorcem.
Em algum lugar, as comportas se abriram e uma enxurrada de suor frio transborda. Mas para gritar, é preciso respirar.
O resto, são apenas pedaços esparsos de lembranças que vêm e vão, em sua maioria constituídos de sons e de cheiros.

Qual é a sua profissão?


Uma mulher chamada Anne foi renovar a sua carteira de motorista. Pediram-lhe para informar qual era a sua profissão. Ela hesitou, sem saber bem como se classificar:

"O que eu pergunto é se tem um trabalho", insistiu o funcionário.

"Claro que tenho um trabalho", exclamou Anne. "Sou mãe".
"Nós não consideramos 'mãe' um trabalho. Vou colocar 'dona-de-casa'", disse o funcionário, friamente.

Não voltei a me lembrar desta história, até o dia em que me encontrei em situação idêntica. A pessoa que me atendeu era, obviamente, uma funcionária de carreira, segura, eficiente, dona de um título sonante:

"Qual é a sua ocupação?", perguntou.

Não sei o que me fez dizer isto; as palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora:

"Sou Doutora em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas".

A funcionária fez uma pausa, a caneta de tinta permanente a apontar para o ar, e olhou-me como quem diz que não ouviu bem. Eu repeti pausadamente, enfatizando as palavras mais significativas. Então, reparei maravilhada como ela ia escrevendo, com tinta preta, no questionário oficial:

"Posso perguntar", disse-me ela, com novo interesse. "O que faz exatamente?"

Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz, ouvi-me responder:

"Desenvolvo um programa a longo prazo (qualquer mãe faz isso), em laboratório e no campo experimental (normalmente eu teria dito dentro e fora de casa). Sou responsável por uma equipe (minha família), e já recebi quatro projetos (todas meninas). Trabalho em regime de dedicação exclusiva (alguma mulher discorda?), o grau de exigência é de 14 horas por dia (para não dizer 24...)."

Houve um crescente tom de respeito na voz da funcionária, que acabou de preencher o formulário, se levantou, e pessoalmente me abriu a porta. Quando cheguei em casa, com o título da minha carreira erguido, fui recebida pela minha equipe - uma com 13 anos, outra com sete e outra com três anos. Do andar de cima, pude ouvir o meu novo experimento (uma bebê de seis meses), testando uma nova tonalidade de voz.

Senti-me triunfante!
Maternidade...
Que carreira gloriosa!
Assim, as avós deviam ser chamadas "Doutora-Sênior em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas", as bisavós "Doutora-Executiva-Sênior" e as tias, "Doutora-Assistente". Eu acho!... Todas as mães, avós, bisavós e tias merecem saber disso...

Mulher moderna.


São 6h00. O despertador canta de galo e eu não tenho forças nem para atirá-lo contra a parede.
Estou tão cansada, não queria ter que trabalhar hoje. Quero ficar em casa, cozinhando, ouvindo música, cantarolando, até. Se tivesse cachorro, passeando pelas redondezas.
Aquário? Olhando os peixinhos nadarem.
Espaço? Fazendo alongamento.
Leite condensado? Brigadeiro...
Tudo menos sair da cama, engatar uma primeira e colocar o cérebro pra funcionar.

Gostaria de saber quem foi a mentecapta, a matriz das feministas que teve a infeliz idéia de reivindicar direitos à mulher e por quê ela fez isso conosco que nascemos depois dela.

Estava tudo tão bom no tempo das nossas avós, elas passavam o dia a bordar, trocar receitas com as amigas, ensinando-se mutuamente segredos de molhos temperos, de remédios caseiros, lendo bons livros das bibliotecas, dos maridos, decorando a casa, podando árvores, plantando flores, colhendo legumes das hortas, educando as crianças, freqüentando saraus, a vida era um grande curso de artesanato, medicina alternativa e culinária.

Aí vem uma “fulaninha” qualquer, que não gostava de sutiã nem tão pouco de espartilho, e contamina as várias outras rebeldes inconseqüentes com idéias mirabolantes sobre 'vamos conquistar o nosso espaço'.

Que espaço, minha filha???!!!!! Você já tinha a casa inteira, o bairro todo, o mundo aos seus pés.

Detinha o domínio completo sobre os homens, eles dependiam de você para comer, vestir, e se exibir para os amigos, que raio de direitos requerer?
Agora eles estão aí, todos confusos, não sabem mais que papéis desempenhar na sociedade, fugindo de nós como o diabo foge da cruz.
Essa brincadeira de vocês acabou é nos enchendo de deveres, isso sim. E nos lançando no calabouço da solteirice aguda.

Antigamente, os casamentos duravam para sempre, tripla jornada era coisa do Bernard do vôlei - e olhe lá, porque naquela época não existia Bernard do vôlei.

Por quê, me digam por quê, um sexo que tinha tudo do bom e do melhor, que só precisava ser frágil, foi se meter a competir com o macharedo?
Olha o tamanho do bíceps deles, e olha o tamanho do nosso.

Tava na cara que isso não ia dar certo!!!
Não agüento mais ser obrigada ao ritual diário de fazer escova, maquiar, passar hidratantes, escolher que roupa vestir, e que sapatos, acessórios usar.
Que perfume combina com meu humor, nem de ter que sair correndo. Ficar engarrafada, correr risco de ser assaltada, de morrer atropelada, passar o dia reta na frente do computador, resolvendo problemas.

Somos fiscalizadas e cobradas por nós mesmas a estar sempre em forma, sem estrias, depiladas, sorridentes, cheirosas, unhas feitas, sem falar no currículo impecável, recheado de mestrados, doutorados, pós-doutorados e especializações (ufffffffffffffffffff!!!!!!!)...

Viramos super mulheres, continuamos a ganhar menos do que eles, lavar, passar,cozinhar e cuidar dos filhos da mesma forma. E ainda temos que dividir as despesas da casa.

Não era muito melhor ter ficado fazendo tricô na cadeira do balanço?

Chega, eu quero alguém que pague as minhas contas, abra a porta para eu passar, puxe a cadeira para eu sentar, me mande flores com cartões cheios de poesia, faça serenatas na minha janela (ai, meu Deus, já são 6:30h, tenho que levantar!), e tem mais, que chegue do trabalho, sente no meu sofá, e diga 'meu bem, me traz uma dose de café, por favor?'.

Descobri que nasci para servir. Vocês pensam que eu to ironizando?????
To falando sério!!!!!!!!
Estou abdicando do meu posto de mulher moderna....
Alguém se habilita?