sábado, 4 de outubro de 2008

Sentimento do mundo...


Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo,  mas estou cheio escravos,  minhas lembranças escorrem e o corpo transige na confluência do amor. Quando me levantar, o céu  estará morto e saqueado, eu mesmo estarei morto,  morto meu desejo, morto o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram  que havia uma guerra e era necessário trazer fogo e alimento. Sinto-me disperso,  anterior a fronteiras, humildemente vos peço que me perdoeis. Quando os corpos passarem, eu ficarei sozinho 
desfiando a recordação do sineiro, da viúva e do microcopista que habitavam a barraca e não foram encontrados ao amanhecer, esse amanhecer mais noite que a noite.

"Sentimento do mundo" é primeiro poema e o que deu nome ao livro. Ele nos revela a visão-de-mundo do poeta: não é alegre, antes, é cheia da realidade que sempre nos estarrece, porque, por mais que sonhemos, a realidade geralmente é dura e muito desafiante".